
Temos vindo a assistir ao aumento do peso da Inteligência Artificial (IA) enquanto ferramenta útil na área da gestão dos recursos humanos nas organizações. Apesar das diferentes abordagens, a utilização da IA consolidou-se como algo a ser tomado em linha de conta na gestão. Efetivamente, deparamo-nos com a sua aplicação em áreas como a construção de anúncios de emprego, triagem de currículos, elaboração de projetos de assessment ou avaliação de desempenho.
Contudo, esta onda de inovação acarreta um conjunto de desafios éticos que merece uma análise cuidadosa. As decisões baseadas em IA serão transparentes e justas, respeitando os direitos dos trabalhadores e dos candidatos?
Desde logo, existe a questão do potencial enviesamento e do desvio do algoritmo. Os algoritmos da IA são baseados em dados históricos que podem conter preconceitos implícitos associados a raça, religião, idade, entre outros, resultando em decisões injustas. Ao refletir padrões existentes na sociedade, um processo de triagem pode conduzir a situações discriminatórias.
Uma pesquisa de candidatos com base em dados anteriores poderá perpetuar diferenciações injustas. É importante lembrar que a IA não é inteligente por si só. Apresenta apenas o resultado de um conjunto de algoritmos programados para imitar a inteligência humana. Neste contexto, a auditoria regular de algoritmos pode assumir-se como uma atividade essencial.
Surge ainda a questão da responsabilidade. Quando a decisão de um sistema de IA resulta numa injustiça, quem é responsável? O programador? O utilizador? A organização? A falta de clareza nesta área dificulta a criação de mecanismos de correção. É necessário definir orientações claras para garantir a responsabilização.
Outro ponto relevante é a transparência. Muitos algoritmos não explicam como chegaram às decisões. Em processos como o recrutamento, um candidato pode ser excluído sem se saber porquê. Esta opacidade gera desconfiança e dificulta a justiça no ambiente laboral.
É necessário garantir uma relação equilibrada entre ser humano e IA. A IA ignora o senso comum, a intuição e a empatia — capacidades essenciais na gestão de pessoas. Decisões desprovidas destes elementos podem ser desmotivadoras e prejudiciais.
Por isso, as questões relacionadas com IA e trabalho devem ser acompanhadas por compromissos éticos. Só com esse enquadramento é possível criar um futuro do trabalho mais justo, onde a tecnologia valorize os colaboradores e promova a equidade.
Ignorar estas questões significa arriscar perpetuar desigualdades. A IA é uma ferramenta poderosa, mas com limitações éticas e sociais. A última decisão deve continuar a ser humana, assegurando uma aplicação responsável e equilibrada da tecnologia.