
Mais dinheiro na conta… mas com cautela
Nos meses de agosto e setembro de 2025, muitos trabalhadores viram aumentar o valor recebido no seu salário líquido. Ou seja, entrou mais dinheiro na conta bancária.
No entanto, importa compreender exatamente o que é que este acréscimo significa. Não se trata de uma redução do imposto cobrado, mas sim da antecipação de parte do reembolso que será pago em 2026.
Rendimento bruto, líquido e liquidez
Antes de explicar melhor a medida, importa esclarecer alguns conceitos.
Quando assinamos um contrato de trabalho, comprometemo-nos a prestar um serviço em troca de um salário a que damos o nome de rendimento bruto. Esse valor não corresponde ao que efetivamente recebemos na conta, uma vez que é alvo de um conjunto de descontos:
- Segurança Social: todos os rendimentos brutos têm uma contribuição de 11% (taxa fixa).
- IRS: varia consoante o rendimento anual e aplica-se de acordo com os escalões de IRS – quanto maior o rendimento, maior a taxa.
O que sobra depois destes descontos é o rendimento líquido, ou seja, o valor que efetivamente recebemos. A essa disponibilidade de dinheiro na conta chamamos liquidez.
O que mudou em 2025
Em agosto de 2025, o Governo atualizou os escalões de IRS, aumentando os limites superiores de cada escalão. Em termos práticos isso significa que alguns rendimentos passaram a ser tributados a uma taxa mais baixa, por terem descido de escalão.
Além disso, o Governo decidiu também aplicar a medida retroativamente a partir de janeiro de 2025, devolvendo nos salários de agosto e setembro o imposto pago a mais entre janeiro e julho.
⚠️ Atenção: esta medida não se aplicou a trabalhadores independentes (recibos verdes).
Antecipação do reembolso
O aumento de rendimento líquido em agosto e setembro não resultou somente de uma descida de IRS no imediato, mas principalmente de uma antecipação do reembolso a que os contribuintes teriam direito em 2026.
Ou seja, em vez de receber esse valor na altura do acerto de contas anual (abril/junho de 2026), parte dele foi adiantado já em 2025.
O que esperar a partir de outubro
- Em outubro passarão a vigorar as tabelas definitivas de retenção de IRS.
- Há um alívio fiscal real, mas modesto: entre 0,4% e 0,6% para rendimentos até 6.297 € brutos mensais.
- Os salários líquidos, contudo, voltarão aos valores mais próximos do habitual, já sem o “bónus” da devolução retroativa.
Risco no encontro de contas de 2026
Durante o ano, todos nós vamos pagando impostos ao Estado de forma “antecipada”, sendo esse imposto retido pela entidade empregadora no próprio recibo de vencimento.
No ano seguinte, entre abril e junho, cada pessoa entrega a sua declaração de IRS, onde declara às Finanças exatamente quanto ganhou e que despesas tem (saúde, educação, habitação, etc.), que podem dar direito a deduções.
Com as informações patentes nessa declaração, o Estado faz as contas ao imposto que realmente deves pagar pelo teu rendimento do ano anterior e quanto já pagaste ao longo do ano,através das retenções mensais efetuadas pela tua entidade empregadora.
A partir desse cálculo, o Estado compara se pagaste mais ou menos do que devias:
- Se foi a mais, devolve-te a diferença através da emissão de um reembolso (ou seja, o dinheiro é transferido para a tua conta bancária).
- Se foi a menos, diz-te qual é o valor que ainda terá de ser pago, emitindo uma nota de cobrança que deverá ser liquidada.
O encontro de contas é o “acerto final” entre o que já foi adiantado e o que realmente devia ser pago de IRS.
Ora, se em 2025 o estado já está a devolver parte desse valor, em 2026, nos casos em que o reembolso de IRS já era baixo no passado, poderemos passar de uma situação de reembolso (em que recebemos o IRS pago a mais) para uma situação de emissão de nota de cobrança pelas finanças (onde temos de passar a pagar IRS).
💡O que recomendam os especialistas
Para evitares surpresas desagradáveis em 2026, os especialistas em finanças pessoais sugerem:
- Não gastar todo o valor extra recebido em agosto e setembro.
- Guardar esse montante numa poupança de baixo risco, que permita resgatar o capital sem perdas.
- Se possível, escolher uma aplicação com rendimento acima da inflação (cerca de 2%) para proteger o valor ao longo do tempo.
Assim, se o acerto de contas em 2026 resultar em imposto a pagar, haverá uma reserva disponível para o cobrir.